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Bem-Estar e Saúde Mental no Trabalho

Gabriela Navarro

Uma monja, durante um curso de meditação, disse aos seus alunos que ela mesma, durante anos, mantinha-se sentada por horas, dia após dia, com ambos os joelhos dobrados e firmemente amarrados sob dores insuportáveis, para acostumá-los àquele tradicional cruzamento meditativo de pernas, conhecido no Budismo como “posição de lótus”.

Mesmo quando uma monja budista afirma, prostrada e aos risos, que aquilo foi uma experiência positiva para elevar a sua própria “espiritualidade humana”, podemos sim acreditar que pode ter havido ali alguns traumas, quer tenham sido eles reparáveis ou não.   

Será que toda a TORTURA física e mental que esta monja sofreu - VOLUNTARIAMENTE OU NÃO - foi cabível e aceitável?!

Há diversos modos de “torturas” - ou num termo mais business - ABUSOS físicos ou mentais, e muitos deles são propagados quase que naturalmente em um ambiente de trabalho. Enquanto chefes, algumas pessoas por vezes cometem estes abusos sem perceber, abusos que talvez elas mesmas tenham sofrido e, por terem sido levadas a acreditar que foram, os abusos, responsáveis por sua evolução profissional, também os aplicam às pessoas com quem trabalham.

E assim então dissemina-se um CÍRCULO VICIOSO, no qual um TRAUMA causado à 1a pessoa é repassado à 2a, e depois à 3a, e assim por diante. O resultado é um ambiente de trabalho cada vez mais ADOECIDO, onde TODAS e TODOS dentro dessa cadeia hierárquica tem sua SAÚDE MENTAL DETERIORADA.

E ter a saúde mental constantemente deteriorada no ambiente de trabalho - seja por algum tipo de assédio ou abuso, ameaça, pressão ou cobranças extremas, desrespeito ou mesmo por calúnia - pode causar:

  • Esgotamento e Exaustão;
  • Estresse, Mudanças de Humor e Irritabilidade;
  • Falhas de Memória e Dificuldade de Concentração;
  • Falta de apetite e Problemas Digestivos;
  • Baixa auto-estima, Frustração e Pessimismo;
  • Dores de Cabeça e Dores no Corpo;
  • Ansiedade e Depressão.

Apresentar um ou mais destes sintomas NÃO FAZ RELAÇÃO ALGUMA com questões temperamentais ou perfis de personalidade forte/"polêmica", ou sequer trata-se - em outra perspectiva - de uma pessoa devagar, improdutiva ou que faz "corpo mole"

O que está listado acima são SINTOMAS REAIS DE FALTA DE BEM-ESTAR E SAÚDE MENTAL!

E MESMO QUE seu colaborador não sofra com nenhum destes sintomas, lembremos que, em geral, profissionais ainda costumam SE COBRAR MUITO dentro do ambiente de trabalho, isto é, tem o péssimo hábito de estabelecerem a si mesmas(os) metas, objetivos ou mesmo cargas horárias que ULTRAPASSAM limites SAUDÁVEIS. 

Este tipo de “conduta” que beira ou mesmo que transpassa limites - sejam estes de “tempo" ou de “carga” - é absolutamente PREJUDICIAL à saúde mental.  

A Gallup, empresa de pesquisa de opinião norte-americana, constatou que 5.000 dos 7.500 colaboradores entrevistados (cerca de DOIS TERÇOS deles) sofrem com a Síndrome do Esgotamento, ou SÍNDROME DE BURNOUT, e dentre eles:

  • 63% têm maiores chances de ausentar-se por problemas de saúde;
  • 23% tem TRÊS vezes mais chance de buscar outro emprego; 
  • 13% não confia na própria performance.

Para uma abordagem um pouco mais ampla aqui do tópico SAÚDE MENTAL, irei mencionar questões diretamente relacionadas ao desenvolvimento humano e, para isto, faço aqui duas reflexões:  

Todo ser humano adulto foi necessariamente criado por pessoas emocionalmente maduras?! 

Ou ainda:

Toda pessoa adulta É EMOCIONALMENTE MADURA?! 

Norteando ambas as questões ao mundo business, se começarmos a pensar que nossa(os) colegas de trabalho sofreram ou podem estar sofrendo de problemas emocionais e/ou afetivos dentro de suas famílias ou vidas pessoais, talvez poderíamos compreender melhor suas atitudes e maneiras de encarar ou lidar com determinadas situações ou interações dentro do ambiente de trabalho. Precisamos sempre lembrar que

SOMOS SERES HUMANOS!

E, por isso, somos sim seres muito sensíveis e, acima de tudo, COLETIVOS! E quando digo “coletivos”, não me refiro somente à condição de sermos sociáveis, mas a de sermos DEPENDENTES, e mais ainda do que socialmente dependentes, mas de sermos

EMOCIONALMENTE DEPENDENTES!

Mas peço que não encaremos aqui o termo DEPENDENTE como negativo, pois ele, em seu todo, não o é.

Estou me referindo àquela dependência emocional de uma mãe com relação ao seu bebê, por exemplo. Trata-se de algo BOM, TRANSPARENTE E RECÍPROCO, e uma dependência pode ser realmente boa se assim o é: MÚTUA.

DEPENDÊNCIA, neste caso, seria o mesmo que NECESSIDADE. 

A "necessidade" afetiva, p.ex., entre marido e esposa, pode ser muito boa se for MÚTUA, caso contrário, a relação tornar-se-á desequilibrada e tenderá a romper-se.

No trabalho temos essa mesma NECESSIDADE EMOCIONAL de sermos bem tratadas e bem tratados, seja por uma/um chefe ou mesmo por nossas(os) colegas.

TEMOS UMA NECESSIDADE VITAL DE BEM-ESTAR!

E este aspecto EMOCIONAL não compete somente ao "tratamento" recebido, mas também ao respeito que dedicam ao seu tempo, ou seja, ao respeito pela sua vida pessoal, seus afazeres e compromissos fora do trabalho, ao entendimento de seus prazos e capacidades para realizá-los, ao espaço que lhe é dado para que atue e se desenvolva, ao tom de voz usado durante uma crítica construtiva assim como à abordagem dada para a resolução de um problema. 

Temos, enquanto PESSOAS e COLABORADORES, todas essas necessidades. 

Trago aqui a breve história do pianista australiano David Helfgott que, enquanto criança e adolescente, também as tinha, essas necessidades, mas elas lhe foram negadas. David foi criado sob uma severa rotina de prática de piano, por um pai autoritário que praticamente o sufocava. Sob esse constante abuso emocional, David, aos 20 anos de idade, sofreu um colapso nervoso após encerrar um concerto.  

Com que MATURIDADE EMOCIONAL o jovem David cresceu?!

Sabendo agora, mesmo que muito por cima, sobre a juventude de David, será que a convivência com um pai controlador foi nociva ao seu BEM-ESTAR EMOCIONAL e ao seu desenvolvimento “humano”?! Acha que toda a pressão sofrida por ele o prejudicou?! 

Bem, fica a critério de cada um/uma decidir estas respostas. 

ASSÉDIO, ABUSO, AMEAÇA, PRESSÃO EXTREMA, DESRESPEITO, CALÚNIA…

É necessário entendermos que sofrer qualquer uma dessas DORES é muito prejudicial a qualquer pessoa, estejam elas ocorrendo num âmbito PESSOAL ou PROFISSIONAL. 

Se concordamos que um CÔNJUGE não deva viver sob uma relação na qual pratica-se uma ou mais dessas dores, acredito compreendermos também que nenhum COLABORADOR o deva.

Muitas pessoas hoje vivem uma relação abusiva.  

Uma esposa ou marido que sofre abusos ou ameaças, ou vive sob qualquer tipo de cobrança ou pressão por parte de seu cônjuge, seja por ciúme ou atenção - seja com relação a filhos, família ou trabalho - trata-se de uma RELAÇÃO ABUSIVA.

Num ambiente de trabalho, deter uma posição de poder, no caso, p.ex., de um(a) gerente, diretor(a) ou CEO, não dá a essa pessoa o direito de praticar abusos, realizar cobranças inapropriadas ou mesmo desrespeitar verbalmente alguém. Estas práticas configuram-se sim como uma relação abusiva.  

Ou, como no caso daquela monja budista que praticava sua meditação diária sofrendo dores físicas terríveis,

A DISCIPLINA RÍGIDA TAMBÉM É ABUSIVA!

E, embora isso seja uma verdade, estes nossos olhos, por inúmeras vezes desatentos, não a compreendem.

David Helfgott levou 20 anos para conseguir voltar aos palcos. O dano psico-emocional que sofreu foi constante e realmente severo, prejudicando permanentemente seu BEM-ESTAR e sua SAÚDE MENTAL.

Não podemos achar que um(uma) colaborador(a) não está sujeito(a) a sofrer um mesmo colapso nervoso se sob constante desrespeito, abuso ou ameaça, ou sob extrema provação e cobrança. 

Em geral, acreditamos que uma pessoa adulta está - ao menos, teoricamente - melhor capacitada e que possui faculdades emocionais e psicológicas mais amadurecidas para lidar com as “dificuldades” da vida, se comparada a uma criança. Porém, afirmarmos isso nos convenceria que David Helfgott é um caso isolado?!

Sejam eles leves, moderados ou graves, os traumas são reais e presentes na vida de toda pessoa.

NÃO PRECISAMOS DE MAIS TRAUMAS, MAS DE MAIS GENTILEZAS. 

Há alguém em sua empresa apresentando esses mesmos sintomas? 

Se acha que não, fique atenta(o) às dores de suas/seus colegas, pois são sintomas muito comuns e somente uma conversa sincera e transparente é capaz de expô-los ao âmbito de uma real ajuda.  

Conheça mais suas/seus colegas! Lembre-se que a pessoa que trabalha ao seu lado é muito mais do que um perfil profissional, mas alguém com suas próprias batalhas, suas vitórias e derrotas, alegrias e tristezas. Alguém que pode estar passando por uma dor inimaginável, ou carregando preocupações com as quais nunca teremos que lidar. Respeitemos e sejamos gentis, com colegas, chefes, subordinados ou mesmo desconhecidos.

Parece óbvio e clichê, mas é a velha máxima da verdade:

GENTILEZA GERA GENTILEZA!

Espero que tenha aproveitado a leitura!!!

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